Video Review – 007: A fase Pierce Brosnan

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Pierce Brosnan pode não ser o melhor 007. Tampouco é o meu preferido. Mas é a imagem dele que me vem à cabeça quando eu penso no personagem, afinal, ele é o James Bond da minha geração. Foi com os filmes dele que eu aprendi a gostar do agente secreto, se bem que na época eu não prestava atenção na história, só ligava para as cenas de ação e com o fato de ele parecer um cara legal.

Hoje, é comum ver um pessoal se derretendo de amores pelo irlandês, enquanto outros soltam os cachorros no coitado, dizendo que é o pior Bond de todos e coisa e tal. Olhando friamente, posso dizer que ele é o que o personagem precisava naquela época. Nem os seis anos sem filmes do 007 tirou a impressão ruim (leia: fracasso nas bilheterias) dos filmes de Timothy Dalton. E o papel de Brosnan era recolocar as coisas nos seus lugares. E gostando, ou não, ele fez isso muito bem.

Para construir o seu James Bond, Brosnan emulou diversas características dos seus antecessores. Ele tem o charme e o cinismo de Sean Connery, o humor afiado de Roger Moore e a frieza de Timothy Dalton. Já do George Lazenby... ah, deixa pra lá!

Além disso, o irlandês é mais um ator que parecia destinado a vestir o smoking do 007. Depois de Roger Moore e Timothy Dalton, que esperaram até ganhar o papel, Brosnan poderia ter se tornado James Bond em “Marcado Para Morrer”, de 1987, mas na época tinha contrato com uma série. Quis o destino, que oito anos depois, graças à desistência de Dalton, ele fosse o escolhido.


O primeiro filme desta fase, “GoldenEye”, é mais lembrado graças ao espetacular jogo para o Nintendo 64, mas também é um grande filme de ação. Soube pegar o que as duas produções anteriores tinham de melhor, e acrescentou elementos que fizeram o sucesso da franquia, como um Bond bem humorado (mas sem parecer uma paródia de si mesmo, como Moore), os velhos inimigos russos, e um vilão megalomaníaco com mais uma base ultratecnológica. O bandido, aliás, era o 006. E interpretado pelo Sean Bean, o Ned Stark de “Game of Thrones” (e sim, como sempre, ele morre).

Já o filme seguinte, “O Amanhã Nunca Morre”, tem, além de uma música tema incrível, executada pela Sheryl Crow, um dos melhores roteiros da trama. Tudo funciona. A discussão sobre a manipulação da mídia continua atual, assim como as motivações do vilão, que poderia ser qualquer magnata das comunicações. Mas, como eu falo no vídeo acima, parece que falta alguma coisa. As cenas de ação são ótimas. Brosnan parece ainda mais a vontade com o personagem, mas mesmo assim, fica a sensação de que poderia ser melhor.

Eu só consigo atribuir essa “falta de tempero” à direção. Se em “GoldenEye” temos Martin Campbell, que apesar de alternar trabalhos bons e ruins, é um cara de estilo, o “O Amanhã Nunca Morre” é comandado por Roger Spottiswoode, o autor de pérolas como "Pare, Senão Mamãe Atira!". Aliás, os nomes seguintes parecem ainda piores.

O Mundo Não é o Bastante” é dirigido pelo inexpressivo Michael Apted, do último “As Crônicas de Nárnia”, enquanto “Um Novo Dia Para Morrer” tem Lee Tamahori, de “Triplo X 2”. Além de não serem originais, eles tomam algumas decisões lamentáveis, como um excesso de cenas em câmera lenta.

Não bastasse isso, os filmes também não ajudam. “O Mundo Não é o Bastante” tem o mesmo problema de falta de ritmo que estávamos acostumados lá nas outras fases. A ideia de criar várias reviravoltas é boa, mas na prática, pouco convence.

O vilão também é (muito) mal executado. Até hoje eu acho incrível a ideia de um cara que não sente dor. Mas fica só nisso. Ele tem um espaço tão limitado (em função da tal reviravolta) que nem mesmo um bom ator como Robert Carlyle consegue melhorar. Para não dizer que o filme não tem qualidades, a cena em que Q passa o bastão é uma grata homenagem ao carismático Desmond Llewelyn, que interpretou o personagem em 17 filmes, e morreu no fim de 1999.


Já “Um Novo Dia Para Morrer” é um motivo de chacota, tanto para os fãs de James Bond quanto para os cinéfilos em geral. E tem motivos para isso, já que o roteiro do 20º filme é um samba do crioulo doido. Tem Bond preso e torturado. Tem vilão megalomaníaco (só para variar) que muda de rosto. Tem um castelo de gelo. Tem o 007 surfando uma onda gigante com uma porta. Tem até a Madonna como instrutora de esgrima.

E não sei se foi o bom humor de um dia de folga, mas eu me diverti muito nas duas horas da produção. Mesmo com todos esses defeitos (dentre outros que eu nem citei), é um filme apaixonado. O texto apresenta diversas referências aos clássicos: a saída de Halle Berry da água, à la Ursula Andress em “Dr. No”; os lasers de “Goldfinger”; o paraquedas com a bandeira do Reino Unido, de “O Espião Que me Amava” e até o jet pack de “Thunderball”. Tem que ver com a mente aberta para os absurdos, que não tem erro.

Um acerto, porém, é Judi Dench. A atriz está fantástica no papel de uma M mulher, em um mundo dominado por homens. A personagem ganhou um destaque dramático até então novo, seja na força de suas decisões, ou na lealdade a Bond, que tem a figura quase de um filho.

Pode não ser o Bond que queríamos. Mas é o Bond que precisávamos!



O melhor: “007 Contra GoldenEye”, de 1995.

O pior: “007: O Mundo Não é o Bastante”, de 1999.

Fique ligado
Na próxima quarta é a vez dos filmes da fase Daniel Craig, com review em texto e vídeo!

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As estreias da temporada de séries: comédias

17:39 Unknown 0 Comments



O post sobre as estreias da temporadas de séries me inspirou a buscar outros pilotos que foram ao ar recentemente. Depois de comentar os dramas, é a vez das comédias.

Sinto que o gênero vive um momento delicado, já que muitos criadores parecem ainda estar nos anos 80/90, com o mesmo estilo de sitcoms, as mesmas piadas, e na maioria da vezes, o mesmo destino: o cancelamento. Hoje em dia, poucas são as comédias que realmente valem a pena. Tanto que das que estão no ar, a única que eu acompanho é “Brooklyn 99”, e apesar de gostar bastante, sei que não é nenhuma obra prima.

E se julgar uma série de drama pelo piloto já é uma tarefa injusta, com as comédias então, isso é muito pior. Muitas das grandes produções do gênero tiveram pilotos bem mais ou menos, caso de “Friends”, sem falar da genial “Community", que precisou de um tempo para mostrar a que veio. Mas mesmo assim, aqueles 20 minutos iniciais já dão uma ideia se vale a pena continuar assistindo.

Assim como nos dramas, selecionei quatro dos pilotos que eu julguei mais interessantes. Eis o veredito:

Dr. Ken


Vamos começar com o pior. Para falar a verdade, eu não sei o que me levou a querer assistir uma sitcom de estilo clássico, estrelada pelo Ken Jeong. Eu gosto dele no primeiro “Se Beber Não Case”, mas acho que ele foi parte fundamental no processo de destruição dos dois seguintes. Além disso, a participação dele em “Community”, é, no mínimo, irritante.

Em cinco minutos, eu já tinha certeza que já havia assistido “Dr. Ken”. Aliás, todo mundo já viu uma meia dúzia de séries iguais, só que com outro protagonista. Na trama, Jeong tem que lidar com a rotina de médico e chefe de família. No trabalho, convive com os maiores clichês possíveis de personagens. Em casa, é a mesma coisa. Tanto que o tema do piloto é espionar a filha. Sério?

A série despeja piadas, mas a maioria não rende nem um sorriso de canto de boca, por mais que o protagonista se esforce. Mesmo assim, achei Jeong menos irritante que o normal. Quase simpático. Mas fica nisso. Ah, mas mesmo assim, já garantiu a temporada completa. Vai que melhora. Eu duvido.

The Grinder


Mais uma tentativa de Rob Lowe (a segunda do ano, ao lado de “You, Me And The Apocalypse”, que ainda não estreou), e desta vez, tem tudo para dar certo, já que “The Grinder” é engraçada, tem personagens carismáticos e aquelas situações absurdas que eu adoro. E está com mais de 90% de aprovação no Rotten Tomatoes!

Na história, Lowe é um ator que brilhou em uma série chamada “The Grinder”, onde ele interpretou um advogado. Após várias temporadas e um fim elogiada, ele não sabia o que fazer da vida. Até resolver usar nos tribunais, o que aprendeu em cena.

Também é mais uma tentativa de Fred Savage, o Kevin Arnold de “The Wonder Years”, que desta vez, é o irmão advogado de Lowe. O elenco também conta com William Devane, de “24 Horas”, como o pai dos dois.

Grandfathered


 A fofinha da lista. John Stamos, o tio Jesse de “Full House” (que vai voltar com a nova temporada, produzida pelo Netflix, no ano que vem) parece entrar em uma vibe meio Charlie Sheen em “Two And a Half Men”, interpretando um cara que parece ele mesmo.

Na série, Stamos é um solteirão de 50 anos, cujas únicas preocupações são seu restaurante, o cabelo e como não ter um relacionamento. Até o dia em que o Josh, de “Drake & Josh”, bate na porta dele, revelando ser seu filho. E de quebra, tem uma filha. Pronto, agora ele tem que aprender a ser pai e avô.

Mesmo com um grande número de erros na carreira e a fama de ser um cara difícil, Stamos é um ator carismático. E a simples premissa já garante bons momentos, como na primeira vez em que ele tem que ficar de babá da neta. Não sei se terá futuro, mas espero que mantenha o bom ritmo.

The Muppets


Todo mundo conhece os Muppets. Dos clássicos que ajudaram a definir a cultura pop, voltaram em 2011, graças a Jason Segel (o Marshall de “How I Met Your Mother”). Depois tiveram mais um filme no ano passado, e agora, uma nova série, escrita por Bill Prady, de "The Big Bang Theory” e que já está passando no Brasil, pelo Canal Sony.

Antes mesmo de ir ao ar, a série já havia gerado polêmica, por causa das reclamações de mães americanas contra a imoralidade (sempre elas). Não, “The Muppets” não tem nada de imoral, mas tem um foco maior nos adultos.

Desta vez, a turma faz a produção de um talk show apresentado pela Miss Piggy. No primeiro episódio, Kermit (sim, é difícil parar de chamar ele de Caco) já tem que lidar com o fim do relacionamento com a porquinha e os ataques de estrelismo dela. Tudo em estilo documentário, nos moldes de “The Office” ou “Modern Family”.

Não bastasse isso tudo, é um piloto muito engraçado. Cheia de piadas, referências à indústria e participações especiais – no primeiro episódio temos Elisabeth Banks e Imagine Dragons. Já garantiu lugar na agenda de séries a acompanhar!


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Video Review – 007: As fases George Lazenby e Timothy Dalton

14:04 Unknown 0 Comments



Quando alguém pensa em James Bond, dificilmente imagina Timothy Dalton ou George Lazenby. Muito disso pelo pouco tempo de tela que tiveram. O primeiro interpretou o agente em dois filmes, enquanto o segundo viveu 007 apenas em “A Serviço Secreto de Sua Majestade”, de 1969.

Perdoem-me a franqueza, mas Lazenby é um erro. O ex-vendedor de carros, e mais conhecido como modelo, não tinha experiência nenhuma como ator. E esse não é, nem de longe, o problema. O australiano não tem jeito de Bond. Não tem aparência, estilo ou atitude de 007. Eu olho para Sean Connery e me convenço que ele pode fazer tudo aquilo. A mesma coisa com Brosnan ou Craig. Até mesmo Roger Moore, na fase vovô, convence. Mas Lazenby, não.


O ator assume o terno do agente em uma fase complicada. Depois de ótima sequência com os três primeiros filmes, a produção errou a mão em “Contra a Chantagem Atômica” e “Só se Vive Duas Vezes”, todos com Sean Connery, ao elevar o exagero à potência máxima. E “A Serviço Secreto de Sua Majestade” muda o ritmo, ao apostar em um roteiro mais humano, até mesmo romântico, mas que não funciona como deveria pela falta de força do protagonista.

Os primeiros 40 minutos até que são legais, com todo o foco na espionagem. Mas quando Bond vai para a Suíça, a coisa desanda. O filme se arrasta, e se já não fosse o suficiente, tem uma das maiores durações: 2h22min. E pensar que eu li comentários no Facebook de que “Spectre” vai ser bom só por que será longo. Acho que essa pessoa não assistiu os clássicos.

Poucos são os que se lembram do filme, que sempre aparece como “aquele em que o 007 casa”. O que parecia uma coisa sem sentido, terminou com um gancho fantástico, quando o vilão Blofeld mata a senhora Bond a caminho da lua de mel. Infelizmente, fica nisso mesmo. O fato é citado uma ou outra vez, e no filme seguinte, “Os Diamantes São Eternos”, voltamos às situações fantasiosas, novamente com Sean Connery, já que Lazenby recusou um contrato para sete filmes. Obrigado por isso!

No topo dos Bonds


Com Timothy Dalton, por outro lado, a história é totalmente diferente. O galês encarnou o agente secreto por apenas dois filmes, mas foi o suficiente para que fosse para o topo da lista do 007 favorito. Parece que o cara nasceu para ser James Bond. Tanto que poderia ter sido ele o substituto de Sean Connery em “A Serviço Secreto de Sua Majestade”. A história, porém, é mal contada. Uns dizem que ele teria sido vetado por ser jovem demais – na época, tinha apenas 23 anos. Outros garantem que foi ele quem recusou, já que ainda não estava maduro o suficiente para continuar o legado do primeiro ator.

Dalton assume o codinome 007 com a missão de criar uma nova era para o personagem. O clima de aventura familiar cheia de humor, dos tempos de Roger Moore, dá lugar a um James Bond real. Mais humano, com uma trama mais séria, realista, sem a megalomania dos outros filmes. O público, porém, não aprovou as mudanças. Tanto que ele amargou duas das três piores bilheterias da franquia.


Azar de quem não quis acompanhar um Bond que tem cara de Bond. Timothy Dalton tem o charme e a elegância necessários para o personagem, além de um tom sério, às vezes até sombrio. Linhas que vão de acordo com o que Ian Fleming escreveu para o 007. Mas não é raro ler o contrário. Em comunidades de discussão de filmes, vi muita gente dizendo que ele não tem nenhum carisma (?), que sua atuação é péssima (???) e que os filmes com ele têm roteiros ruins (bom deve ser o de “Contra o Foguete da Morte”...).

Assim como em toda a franquia, a fase Dalton abraça os sucessos da época como inspiração. No caso, os filmes policiais e de ação. E é neste sentido que dá um baile nos anteriores. As cenas são empolgantes, como a fuga entre a Eslováquia e a Áustria ou o clímax no avião, em “Marcado Para Morrer”, ou as inúmeras cenas de violência pesada (o que não acontecia anteriormente), em “Permissão Para Matar”.

Tem que destacar, mais uma vez, a trilha sonora. “The Living Daylights”, do A-Ha é uma das melhores músicas de todo o setlist histórico da franquia.

Conforme eu destaquei no vídeo, os dois filmes deixam um gostinho de quero mais. Apesar de não ter achado “Permissão Para Matar” aquela Brastemp, é visível que Dalton está bem mais a vontade na pele do personagem, então fica aquela sensação de “como seria se ele continuasse”. Nem mesmo a idade mais avançada parece ter feito muita diferença, e acho que ele poderia abraçar, tranquilamente, outras duas produções. Mas, vai ficar sempre no “se...”.


O melhor: “Marcado Para Morrer”, de 1987.

O pior: “007 a Serviço Secreto de Sua Majestade”, de 1969.

Fique ligado

Na próxima quarta é a vez dos quatro filmes da fase Pierce Brosnan, com review em texto e vídeo!

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Beasts of no Nation e o projeto da vida de Cary Fukunaga

15:28 Unknown 0 Comments



Já está no ar o tão aguardado primeiro filme do Netflix. Mais do que pela história, “Beasts of no Nation” deve ser (mais) um hit do serviço de streaming devido ao fato de que é uma aposta para o Oscar e graças à polêmica de ter sido boicotado pelas principais redes de cinema dos Estados Unidos. O filme, porém, não é do Netflix. É um projeto pessoal de Cary Joji Fukunaga (vencedor do Emmy por “True Detective”), que demorou uma década até ver o sonho realizado.

Antes mesmo da ligação de Ted Sarandos (chefe de conteúdo do serviço), oferecendo um contrato de distribuição, o diretor já havia passado por inúmeras dificuldades durante das gravações, em Gana. Eram equipamentos presos na alfândega; figurantes detidos, pois o governo local suspeitava que fossem mercenários; a necessidade de operar a câmera, após uma lesão do cinegrafista; e para piorar, um surto de malária que colocou em risco a vida da equipe.

Além de trabalhar com a HBO em “True Detective”, Fukunaga já havia chamado atenção com o aclamado “Sin Nombre”, seu longa de estreia, e a elogiada adaptação de “Jane Eyre”, com e Mia Wasikowska e Michael Fassbender. Ele sabe muito bem a importância da tela grande para contar uma história. “Eu sei que a melhor maneira de ver o filme está em um cinema. É melhor para o som, melhor para a imagem e a melhor maneira de sentir a energia na sala. A experiência emocional ampliada por compartilhá-lo com outras pessoas é o melhor feito no cinema”, declarou ao The Guardian.


Na época em que rodava “Beasts of no Nation”, Cary Fukunaga ainda não era o conhecido diretor de “True Detective”. Sem nome, poucos eram os interessados em distribuir um filme que fala sobre uma guerra na África, com um elenco negro, e apenas um ator conhecido – Idris Elba. Foi aí que a proposta do Netflix falou mais alto. "Claro que eu gostaria que o filme fosse visto no cinema, mas gostaria, principalmente, de que este filme chegasse ao maior número possível de pessoas", disse à AFP.

Lançado oficialmente no último dia 16, o filme deve ter mais audiência que alguns dos principais blockbusters do ano. Isso porque está em destaque para os quase 70 milhões de assinantes do serviço. Como as contas costumam ser compartilhadas, o número de pessoas atingidas pode ser multiplicado. Mas o Netflix quer mais. Depois de conquistar papel de destaque nas premiações de televisão, o objetivo é o prêmio máximo do cinema, e para isso, “Beasts of no Nation” precisava ser exibido na tela grande.

Com o boicote de redes como Cinemark, Regal, AMC e Carmike, o Netflix se abraçou aos pequenos cinemas, que toparam exibir o filme (nos mesmos moldes do que aconteceu com “A Entrevista”, no início do ano). Com a divulgação dos números do fim de semana, não foram poucos os que falaram em fracasso, já que “Beasts of no Nation” fez US$ 50.699 em 31 salas – média de US$ 1.635.

Os números pouco importam. O filme já está apto para concorrer ao Oscar. E caso venham as tão esperadas indicações, o longa deve voltar para as telonas, provavelmente em um circuito maior, e desta vez, com muito mais nome.

E o filme?


Baseado no romance escrito por Uzodinma Iweala, “Beasts of no Nation” conta a história de Agu (Abraham Attah), que tem a sua vida roubada ao ser forçado a lutar como criança-soldado na guerra civil de um país do Oeste africano.

Era para ser o filme de Idris Elba, que dá vida ao Comandante, o líder do batalhão. O inglês, mais uma vez, tem uma atuação de destaque. Mas quem rouba todas as cenas é Attah. O ganês de 14 anos, que nunca havia trabalhado como ator, dá um show ao expressar os sentimentos conflitantes do menino que perde a infância para os horrores da guerra.

Como roteirista, Fukunaga é corajoso. Mostra que no campo de batalha não existe glória, apenas mortes. A guerra não é romanceada como estamos acostumados a ver em outros filmes. Além disso, o texto não se preocupa em mostrar as motivações do conflito. Não existe um certo e outro errado, tanto que a maioria dos soldados não sabe nem os motivos pelo qual lutam. "Eu prefiro ser um documentador do nosso tempo em um formato ficcional do que fingir que nada disso está acontecendo", diz o cineasta.


Na direção, o californiano mostra porque é um dos mais promissores desta geração. Ele sabe conduzir uma história de violência extrema, mas que não é explícita. A visão é pessimista, já que mesmo com a “euforia” da guerra, a batalha é mostrada com tristeza. Muito disso, por tirar o melhor dos seus atores, que podem surpreender no Oscar (Attah já levou o prêmio de revelação no Festival de Veneza).

Além disso, Fukunaga também assina a direção de fotografia, setor em que ele demonstra talento acima da média. Nos minutos iniciais, apesar da pobreza da África, a paleta de cores cria um clima de leveza, mesmo com o conflito que ocorre paralelamente. Mas não demora muito para que o tom de guerra entre em cena, com o vermelho-sangue, funcionando como um personagem. O cineasta também sabe ousar, como na cena em que demonstra o efeito das drogas em Agu.

Se Fukunaga faz o filme atrás das câmeras, na tela, ele só existe graças a Elba e Attah. O primeiro, que também produz o longa, cria um personagem ímpar. O Comandante é um vilão. Não tem ideologia, é movido apenas pela ganância, e como o rei do xadrez, fica atrás da linha de ação, vendo os peões sendo levados pela guerra. Sua melhor arma de motivação são as drogas. Elas sim comandam dentro de cada soldado. Ao mesmo tempo, é um líder carismático, que cria até mesmo empatia.


Mas o filme é do menino. Agu é uma criança como as outras. Um menino levado, mas que não esconde a inocência. Não entendia o que era a guerra que se aproximava e foi obrigado a ter que lutá-la. A cena em que ele mata sua primeira vítima causa um embrulho no estômago, já que o expectador se sente no lugar do garoto.

A guerra transforma Agu, que troca as palavras pelos tiros. Em certo ponto do filme, só ouvimos a voz do menino em seus pensamentos, quando ele tenta falar com Deus e refletir sua realidade. Uma criança que sabe que mesmo se aquilo acabar, não será mais uma criança. Em um dos diálogos, ele destaca que viu e fez coisas terríveis. Que se sente um animal. Mas que tenta não pensar nisso para não ficar triste.



Destaco uma das reflexões de Agu:
– Sol, por que está brilhando neste mundo? Estou esperando para pegar você com as minhas mãos e espremer tanto que não poderá brilhar mais. Assim será sempre escuro e ninguém terá que ver todas as coisas terríveis que estão acontecendo aqui.

É um filme pesado, que toca em feridas que na esquecemos que existe. “Como uma sociedade, nós temos sido privados de imagens de guerra. Eu acho que se mais pessoas vissem como a guerra é horrível, haveria uma ação mais global para impedi-la”, afirmou Fukunaga. “É a chance de mais de 60 milhões de pessoas terem um pouco mais de educação do que está acontecendo em outra parte do mundo”, completa Elba.

Que o Netflix continue investindo em produções deste porte, e que saiba manter o hype, caso queira entrar com força no Oscar do ano que vem.

Já para Fukunaga, que ele tenha o respaldo necessário para continuar contando suas histórias (ele já teve as asas cortadas quando tentou dar outra roupagem para o remake de "It"). Imagino o que um cara desses é capaz de fazer com dinheiro sobrando. Ele já apontou o interesse em dirigir um filme do 007 com Idris Elba. De qualquer forma, é um nome que ouviremos muito daqui pra frente!

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As estreias da temporada de séries

19:05 Unknown 0 Comments



Não lembro qual foi a última vez em que eu peguei uma série no início e segui ela semana após semana, regularmente. Chuto que foi “Lost”, láááá em 2004. Desde então eu acompanhei vários pilotos. Na maioria dos casos, nem passava deste primeiro episódio.

Nos últimos tempos, desencanei de vez das novas séries. Para ter ideia, só fui assistir “Game of Thrones” e “The Walking Dead” neste ano. Mas é hora de dar uma nova chance. Selecionei quatro dos pilotos que eu julguei mais promissores. Eis o veredito:

Limitless


Como fã do filme estrelado pelo Bradley Cooper, estava com medo da série, já que parecia ser mais um daqueles casos de caça-níquel. Mas para a minha surpresa, a produção aproveita as pontas deixadas no longa de 2011 para expandir o universo.

Quatro anos após os eventos do filme, Eddie Morra, o personagem de Bradley Cooper, é um dos homens mais influentes da América e o NTZ, a droga que libera 100% da capacidade cerebral, segue nas ruas, o que desperta ganância e violência. E a missão do novo herói, Brian Finch (Jake McDorman), é usar estes poderes para o bem, ao lado do FBI.

A fotografia, um dos pontos altos do filme, é reproduzida de maneira fiel. O “mundo normal” é retratado com cores frias, ganhando brilho no momento em que a droga amplia os horizontes de Brian. As imagens que ilustram as ideias do protagonistas também ajudam a contar a história.

O medo é que a série caia na armadilha do "caso do dia" e perca o potencial. Pretendo assistir assim que tivermos uma temporada completa, a não ser, é claro, que as críticas desandem, o que acho difícil neste momento.

Blindspot


Das estreias da temporada 2015/2016, Blindspot tem a premissa que mais me interessou. A trama de uma mulher encontrada dentro de uma mala, sem memória, e com o corpo coberto de tatuagens – que são pistas de futuros crimes – chama a atenção. Mas ao mesmo tempo é a série mais limitada, já que eu não aguento mais aquela história de caso do dia

Assim como na maioria das as séries policiais, os clichês saltam pela tela. Temos a equipe do FBI etnicamente/culturalmente diversificada (e um complementa o outro); a chefe durona, porém, de coração mole; e o líder badass, que já sabemos, será o par romântico da protagonista.

Já Jane Doe é a versão feminina de Jason Bourne.  E dá certo por que Jaimie Alexander parece ter carisma (e competência) suficiente para levar o show, que também se destaca na parte técnica. O capricho é grande no primeiro episódio. Seja nas imagens externas – lindas – ou nos detalhes da tatuagem que cobre o corpo da personagem.

Provavelmente vou continuar assistindo. Não apenas porque eu fiquei curioso para saber como Jane foi transformada em uma máquina de guerra, o significado das tatuagens ou os planos com o FBI, mas também porque a patroa já avisou. Parece ser um bom passatempo. Pena que tempo para ver novas séries é algo que falta ultimamente (e só ver a velocidade com que eu tenho acompanhado “Gotham”).

Scream Queens


Ame ou odeie. Sem meio termo. É desta forma que “Scream Queens” deve ser encarada. Em primeiro lugar, acredito que seja impossível assistir a produção sem levar em consideração o histórico do criador e a proposta da série.

Ryan Murphy já mostrou sua falta de pudor em “Nip/Tuck”, o gosto pelo sangue em “American Horror Story” e que sabe abraçar (e se divertir com) os clichês dos adolescentes em “Glee”. Na primeira impressão, “Scream Queens” parece ser uma mistura de todas as anteriores. Além de criar um novo gênero: o terror besteirol.

Tudo na série é uma grande tiração de sarro dos eternos clichês dos filmes de terror. A universidade, a fraternidade, a menina popular que não tem nada na cabeça, a espertinha que sobrevive no final. O que todo mundo já viu no gênero está presente até mesmo na parte técnica, com a câmera que se aproxima devagar, fechando na expressão assustada dos personagens e o grito exagerado. Aliás, tudo é extremamente exagerado. O que deixa a dúvida: é uma sátira ou uma piada sem graça?

A estreia da série foi dividida em dois episódios. No primeiro são apresentados os elementos que irão nortear a temporada e os personagens (sem carisma nenhum em primeiro momento). O capítulo seguinte serve para elevar a caricatura com um pseudomistério do passado, várias mortes e uma reviravolta que, admito, deixa uma certa curiosidade. Mas não o suficiente para seguir adiante.

Tem um elenco interessante, com nomes como Emma Roberts, Abigail Breslin (a Pequena Miss Sunshine cresceu e perdeu a graça), Lea Michele e Jamie Lee Curtis. Mas as atuações são tenebrosas – e eu digo isso sem falar dos momentos em que é para ser forçado. Ariana Grande, é, desde já, uma das piores coisas que a televisão já viu.

É a típica série para um público definido. Estrelas teen (além de Ariana, Nick Jonas tem um papel de destaque), a assinatura de Murphy e a própria trama em si são o suficiente para que um pessoal do Twitter ache esta a oitava maravilha do mundo – prevejo muitos unfollows depois disso.

Li que a série melhora nos episódios seguintes, mas a primeira impressão foi tão fraca que me despeço por aqui de “Scream Queens”.

Supergirl


Por fim, a maior surpresa da lista, já que eu não imaginava que ficaria tão satisfeito com o primeiro episódio da prima do homem de aço. O piloto de “Supergirl”, que estreia apenas no próximo dia 26, mas já gerou um certo hype na rede, tem uma estrutura diferente das outras séries baseadas em quadrinhos. E é aí que pode estar o segredo do sucesso.

O que em outras produções demoraria, pelo menos, um episódio, em “Supergirl” é apresentado em menos de 15 minutos. É esse o tempo necessário para sermos apresentados a Kara, saber que ela tinha a missão de proteger o bebê Kal-El, mas que termina resgatada por ele, já adulto, na zona fantasma, conhecer um mundo acostumado com o Superman, descobrir que ela quer ajudar as pessoas até o momento em que impede a queda de um avião. Ufa. Tudo isso em apenas um bloco. Na meia hora seguinte, mais revelações, o que chega a ser exagerado para um piloto.

O mais legal neste primeiro episódio é a maneira como o roteiro brinca com a mitologia do Superman. Não tem aquele papo de ˜como o mundo vai  aceitar um alienígena com poderes?˜. O homem de aço é uma estrela, estampando as capas do Daily Planet diariamente. Isso tira a pressão de Kara e também da série.

Melissa Benoist, de “Glee”, esbanja carisma como a protagonista. É difícil não torcer por ela. Dos nomes de destaque do elenco ainda temos Chyler Leigh, a Lexie de “Grey's Anatomy”, como a irmã humana de Kara, e a Ally McBeal, ops, Calista Flockhart, como a chefe dondoca.

O único porém são os efeitos especiais. A cena de voo com o avião ficou bem legal, mas a luta contra o inimigo do dia ficou esquisita. Mas pode ser que isso seja corrigido quando estrear oficialmente.


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Video Review – 007: A fase Roger Moore

17:00 Unknown 0 Comments



Tiozão. É a única palavra que vem na minha cabeça para descrever Roger Moore como James Bond. Diferente de Sean Connery, que mesmo rústico, parecia um gentleman, seu sucessor é aquele tio piadista que todos temos. Com a diferença que este é treinado e tem licença para matar.

O roteiro da fase privilegia o humor, e Moore abraça isso totalmente. Tanto que o ator não gostou de filmar uma cena de “Somente Para Seus Olhos” em que Bond joga o carro do vilão de um penhasco. Mas será que reclamou de ter que se vestir de palhaço em “Octopussy”?

Bom de piadas e bom de briga. Outro diferencial a Connery é a facilidade nas cenas de ação. Até as mais absurdas parecem plausíveis quando vividas por Roger Moore. Mesmo tendo ganhado o personagem com 46 anos. O que pesou, depois de 12 anos vivendo o personagem, foi que Bond envelheceu demais. É muito estranho ver o agente secreto com rugas para todos os lados (e olha que o ator parece ter feito um ou outro procedimento para disfarçar as marcas de expressão).


O clima bem humorado desta fase surge logo no primeiro filme, em cenas como a perseguição de lancha – que não usa nenhum tipo de CG! Aos poucos, porém, a zoeira vai aumentando, até chegar ao absurdo que é “007 Contra o Foguete da Morte”. Das situações inexplicáveis, parte para a comédia pastelão e termina insuportável. Os “melhores momentos” estão em destaque lá no vídeo acima.

Os números do filme em bilheteria foram bons, mas depois daquilo, só diminuíram – só conseguindo sucesso parecido já com Daniel Craig e “Cassino Royale”. Para tentar minimizar o estrago para a franquia, “Somente Para Seus Olhos” tem um clima mais sombrio e as melhores cenas de ação até o momento, mas parece ter ficado totalmente esquecido. A única coisa que merece destaque é o último momento do líder da Spectre, Ernst Stavro Blofeld, que é morto sem nem ter o nome mencionado, já que a produtora de Bond havia levado uma rasteira em um processo pelos direitos do personagem.

Sem Blofeld, a série apresenta um padrão de vilões que é utilizado durante toda a franquia: ricos, com planos excêntricos, e superficiais. O único que ganha um pouco de destaque é Francisco Scaramanga, o homem da pistola de ouro, naquele que foi o filme mais frustrante para mim. Não que seja ruim. Não é. Tem um dos melhores últimos atos. Mas em geral, não é bom. E as expectativas, porém, eram grandes.


Os capangas, por outro lado, roubam a cena. Além de Jaws, que ganhou um tópico especial no vídeo, a série mostra um gigante com gancho em “Viva e Deixe Morrer”, Nick Nack, o anão ajudante de Scaramanga em “Contra o Homem da Pistola de Ouro”, e até mesmo a modelo Grace Jones (!).

Esta fase não economiza nas homenagens a sucessos da época. Em “O Espião Que me Amava”, além de batizar o capanga de Jaws, o filme tem uma sequência sensacional, em que o Lotus submarino de Bond sai do mar, assim como em “Tubarão”, de Steven Spielberg. “Star Wars” é a inspiração de “Contra o Foguete da Morte” e “Octopussy” contém vários elementos de “Indiana Jones”.

A trilha sonora, que já havia sido lembrada no post sobre a fase Sean Connery, merece destaque mais uma vez. Entre as músicas temas temos Carly Simon, Shirley Bassey, Duran Duran, e a melhor de todas, “Live And Let Die”, de Paul McCartney.


É uma fase polêmica. Os filmes têm bons momentos, mas em geral, são fracos. O personagem, por outro lado, é sensacional. Pode não ser o meu Bond favorito, mas é o cara que eu queria que fosse o meu tio.

O melhor: “O Espião Que me Amava”, de 1977.

O pior: “007 Contra o Foguete da Morte”, de 1979.

Fique ligado

Na próxima quarta é a vez das fases George Lazenby e Timothy Dalton, com review em texto e vídeo!

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