Video Review – 007: A fase Pierce Brosnan
Pierce Brosnan
pode não ser o melhor 007. Tampouco
é o meu preferido. Mas é a imagem dele que me vem à cabeça quando eu penso no
personagem, afinal, ele é o James Bond
da minha geração. Foi com os filmes dele que eu aprendi a gostar do agente
secreto, se bem que na época eu não prestava atenção na história, só ligava
para as cenas de ação e com o fato de ele parecer um cara legal.
Hoje, é comum ver um pessoal se derretendo de amores pelo
irlandês, enquanto outros soltam os cachorros no coitado, dizendo que é o pior
Bond de todos e coisa e tal. Olhando friamente, posso dizer que ele é o que o
personagem precisava naquela época. Nem os seis anos sem filmes do 007 tirou a
impressão ruim (leia: fracasso nas bilheterias) dos filmes de Timothy Dalton. E o papel de Brosnan
era recolocar as coisas nos seus lugares. E gostando, ou não, ele fez isso
muito bem.
Para construir o seu James Bond, Brosnan emulou diversas
características dos seus antecessores. Ele tem o charme e o cinismo de Sean Connery, o humor afiado de Roger Moore e a frieza de Timothy Dalton. Já do George Lazenby... ah, deixa pra lá!
Além disso, o irlandês é mais um ator que parecia
destinado a vestir o smoking do 007. Depois de Roger Moore e Timothy Dalton, que
esperaram até ganhar o papel, Brosnan poderia ter se tornado James Bond em “Marcado
Para Morrer”, de 1987, mas na época tinha contrato com uma série. Quis o
destino, que oito anos depois, graças à desistência de Dalton, ele fosse o
escolhido.
O primeiro filme desta fase, “GoldenEye”, é mais lembrado graças ao espetacular jogo para o Nintendo 64, mas também é um grande filme de ação. Soube pegar o que as duas produções anteriores tinham de melhor, e acrescentou elementos que fizeram o sucesso da franquia, como um Bond bem humorado (mas sem parecer uma paródia de si mesmo, como Moore), os velhos inimigos russos, e um vilão megalomaníaco com mais uma base ultratecnológica. O bandido, aliás, era o 006. E interpretado pelo Sean Bean, o Ned Stark de “Game of Thrones” (e sim, como sempre, ele morre).
Já o filme seguinte, “O Amanhã Nunca Morre”, tem, além de uma música tema incrível,
executada pela Sheryl Crow, um dos
melhores roteiros da trama. Tudo funciona. A discussão sobre a manipulação da
mídia continua atual, assim como as motivações do vilão, que poderia ser
qualquer magnata das comunicações. Mas, como eu falo no vídeo acima, parece que
falta alguma coisa. As cenas de ação são ótimas. Brosnan parece ainda mais a
vontade com o personagem, mas mesmo assim, fica a sensação de que poderia ser
melhor.
Eu só consigo atribuir essa “falta de tempero” à direção.
Se em “GoldenEye” temos Martin Campbell,
que apesar de alternar trabalhos bons e ruins, é um cara de estilo, o “O Amanhã
Nunca Morre” é comandado por Roger Spottiswoode, o autor de pérolas como "Pare, Senão Mamãe Atira!". Aliás, os
nomes seguintes parecem ainda piores.
“O Mundo Não é o
Bastante” é dirigido pelo inexpressivo Michael Apted, do último “As Crônicas de Nárnia”, enquanto “Um Novo Dia Para Morrer” tem Lee
Tamahori, de “Triplo X 2”. Além de não
serem originais, eles tomam algumas decisões lamentáveis, como um excesso de
cenas em câmera lenta.
Não bastasse isso, os filmes também não ajudam. “O Mundo
Não é o Bastante” tem o mesmo problema de falta de ritmo que estávamos
acostumados lá nas outras fases. A ideia de criar várias reviravoltas é boa,
mas na prática, pouco convence.
O vilão também é (muito) mal executado. Até hoje eu acho incrível
a ideia de um cara que não sente dor. Mas fica só nisso. Ele tem um espaço tão
limitado (em função da tal reviravolta) que nem mesmo um bom ator como Robert
Carlyle consegue melhorar. Para não dizer que o filme não tem qualidades, a
cena em que Q passa o bastão é uma grata homenagem ao carismático Desmond
Llewelyn, que interpretou o personagem em 17 filmes, e morreu no fim de 1999.
Já “Um Novo Dia Para Morrer” é um motivo de chacota, tanto para os fãs de James Bond quanto para os cinéfilos em geral. E tem motivos para isso, já que o roteiro do 20º filme é um samba do crioulo doido. Tem Bond preso e torturado. Tem vilão megalomaníaco (só para variar) que muda de rosto. Tem um castelo de gelo. Tem o 007 surfando uma onda gigante com uma porta. Tem até a Madonna como instrutora de esgrima.
E não sei se foi o bom humor de um dia de folga, mas eu
me diverti muito nas duas horas da produção. Mesmo com todos esses defeitos
(dentre outros que eu nem citei), é um filme apaixonado. O texto apresenta
diversas referências aos clássicos: a saída de Halle Berry da água, à la Ursula
Andress em “Dr. No”; os lasers de “Goldfinger”; o paraquedas com a
bandeira do Reino Unido, de “O Espião
Que me Amava” e até o jet pack de “Thunderball”.
Tem que ver com a mente aberta para os absurdos, que não tem erro.
Um acerto, porém, é Judi
Dench. A atriz está fantástica no papel de uma M mulher, em um mundo
dominado por homens. A personagem ganhou um destaque dramático até então novo,
seja na força de suas decisões, ou na lealdade a Bond, que tem a figura quase
de um filho.
Pode não ser o Bond que queríamos. Mas é o Bond que
precisávamos!
O melhor: “007
Contra GoldenEye”, de 1995.
O pior: “007: O
Mundo Não é o Bastante”, de 1999.
Fique ligado
Na próxima quarta é a vez dos filmes da fase Daniel Craig,
com review em texto e vídeo!
0 comentários: