O mercado de animes em home vídeo no Brasil – parte 4
Foto: Luiz Guilherme
Na segunda metade da década passada, nenhuma
distribuidora movimentou tanto o mercado de animes como a Focus Filmes. A
empresa aproveitou o bom momento que a RedeTV vivia na época com a exibição de
títulos como “Fullmetal Alchemist”, "Super Campeões", "Hunter x
Hunter" (a primeira versão, de 1999) e "Viewtiful Joe" para
entrar no mercado.
Os box das quatro séries surpreendiam pela qualidade.
Além das luvas, os estojos possuíam arte interna, além de outros mimos como
pôster ou cards. Mas apesar do sucesso na TV aberta, nenhum daqueles títulos
poderia ser considerado um blockbuster. Pelo menos não em nível de levar os
expectadores para as lojas. A Focus, porém, pensou de forma diferente. E
quebrou a cara. Quase ninguém comprou. E qual foi a decisão da empresa neste
momento? Acertou quem apostou no cancelamento.
“Fullmetal Alchemist” foi o único que teve o lançamento
concluído, mas não sem uma longa novela, que será relembrada a seguir. Os
outros não tiveram a mesma sorte. “Viewtiful Joe” e “Hunter x Hunter” foram
cancelados após o lançamento de três boxes (nove discos e 36 episódios no
total). A situação de “Super Campeões” foi ainda pior. O anime de futebol não
chegou nem na metade, sendo interrompido no episódio 24.
Mais tarde, já em 2010, a Focus apostou em um título com
um apelo bem maior: “Digimon”. Pena que fez isso com quase 10 anos de atraso,
já que sem o hype da época, os DVDs encalharam. Parou no episódio 26.
Não foi apenas a falta de timing que impediu o sucesso de
“Digimon”. É meio difícil esperar que o consumidor dê um voto de confiança para
uma empresa que já descontinuou a maioria dos lançamentos. E com mais um
cancelamento, fica fácil entender a resistência dos fãs com a empresa.
Foto: Roger.R.A.Raimundo (Roger's Stuffs)
Depois de tantos cancelamentos, a empresa continuou
apostando em animes. Tanto que lançou o clássico “A Princesa e o Cavaleiro”, de
Osamu Tezuka. Mas não é nem necessário dizer que não teve fim.
Nos últimos tempos, a empresa dedicou as maiores atenções
aos boxes de tokusatsu e relançou várias produções completas, como “Changeman”,
“Flashman”, “Jaspion”, “Jiraya” e “Jiban”, já que pelo menos os fãs nostálgicos abrem a carteira. Até Focus até chegou a flertar com o anime de
“Samurai X”, após as boas vendas do filme live action, mas até agora não passou
disso. Como fã da produção, nem crio expectativas, afinal, quais são as chances
de completar o lançamento de uma série com quase 100 episódios?
A novela Fullmetal Alchemist
Foto: Luiz Guilherme
Lançado em 2006 pela Focus, “Fullmetal Alchemist” teve um
ótimo tratamento pela distribuidora. Pelo menos no primeiro box: luva em papelão duro, estojos com arte interna, além de brindes como
pôster e cards 3D. Além da boa qualidade de vídeo, os discos possuíam três
faixas de áudio e vários extras.
O investimento, porém, não teve o retorno esperado.
Talvez porque, mesmo com esse tratamento, não seja interessante pagar quase R$
100 por 12 episódios de vinte e poucos minutos. Na ocasião, a empresa fez o que
devia: continuou com o lançamento com os volumes 2 e 3. Mas a qualidade caiu
bastante. Seja na luva, na impressão ou até na autoração, quando foram
retiradas as legendas em inglês e a faixa de áudio de cinco canais.
Eis que “Fullmetal Alchemist” teve o mesmo destino das
outras séries da Focus. Cancelada, com a justificativa é que as vendas não
haviam alcançado níveis satisfatórios. Os fãs, que investiram pensando que
teriam uma coleção completa, ficaram chupando o dedo. Pelo menos por três anos,
quando a empresa surpreendeu e anunciou o último box (em uma tentativa de
salvar a credibilidade perdida).
O quarto box, porém, foi mais um balde de água fria. Os
episódios eram os mesmos que haviam sido exibidos pela RedeTV, ou seja, cheio
de cortes (por mais que a capa fizesse questão de dizer o contrário).
No ano passado a Focus voltou a surpreender, anunciando
um box com a série completa, em digistack, no mesmo padrão dos tokusatsus.
Mas... com uma capa genérica. Eis que os fãs gritaram e foram ouvidos. O site
Jbox fez a frente e participou do redesign da capa. E não a única mudança, já
que a caixa recebeu uma luva. Tudo perfeito? Ainda não!
Na hora do resultado, o último disco apresenta erros
bizarros de autoração (provavelmente por ter um episódio a mais que os outros),
além de novos cortes. Foram necessários quase seis meses até o recall e o
relançamento e... Ufa. Quase 10 anos depois do primeiro box, a coleção
“Fullmetal Alchemist” está completa. Precisava ser tão difícil?
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