Bloodline - Review
Família. Algumas são grandes, outras pequenas. Umas são ricas, outras pobres. Mas uma coisa é comum. Todas tem segredos. E é esse o grande tema de Bloodline, série exclusiva do Netflix, produzida por Glenn Kessler, Todd A. Kessler e Daniel Zelman (o trio responsável por Damages).
Na minha fila de séries, Bloodline nem aparecia. Porém, os bons trailers (principalmente o do vídeo abaixo, com o cover de "Nothing Else Matters", do Metallica) e a presença de Kyle Chandler (vencedor do Emmy por Friday Night Lights e um dos meus atores favoritos) me fizeram abrir esta exceção.
Bloodline conta a história dos Rayburn, família da Flórida, dona de uma pousada nos Keys, uma região de ilhotas a cerca de 250 quilômetros de Miami. Para a comunidade, eles são um exemplo. O típico comercial de margarina. Até que o retorno do filho mais velho, Danny (Ben Mendelsohn), a ovelha negra, acende a chama que irá queimar tudo.
Não é preciso mais do que o piloto para ver que de perfeita, a família não tem nada. Em 13 episódios, são revelados todos os segredos dos Rayburn, o que explica os seus comportamentos e as motivações para cada personagem ser como é, culminando em um desfecho sombrio.
Para quem assistiu Damages, a estrutura narrativa de Bloodline é bastante familiar. O roteiro utiliza muitos flashbacks e flashforwards. Os primeiros são para explicar as atitudes dos personagens. Já o futuro é responsável pelo mistério da série, sendo a principal artimanha para prender o espectador.
O problema é justamente a comparação com Damages. Bloodline não tem um personagem com a força de Patty Hewes para levar o show sozinho. O mistério cria expectativas altas, o que pode decepcionar muita gente na hora da revelação.
Mas se falta força para os personagens, sobra ao elenco, principalmente Mendelsohn. O australiano de 46 anos rouba todas as cenas. No início, mostra um Danny frágil, como um cachorro perdido. Mas conforme o roteiro avança, quando descobrimos que ele é uma "vítima" da família perfeita, a ovelha negra mostra outra face, que garante os melhores diálogos da série, e, espero, algum prêmio na estante do ator.
No outro lado da balança está John, o segundo filho mais velho, interpretado por Chandler. Como verdadeiro líder da família, o policial tem que lidar com a volta do irmão e segurar toda a barra. Expressiva e sentimental, a interpretação também merece alguma indicação.
Danny (Mendelsohn) e John (Chandler) carregam o show nas costas
A seleção de atores é caprichada, desde os pais (Sissy Spacek, de Carrie, a Estranha, e Sam Shepard, de O Dossiê Pelicano), até aos outros irmãos (Linda Cardellini, de ER, e Norbert Leo Butz, destaque no teatro, vencedor do prêmio Tony), passando pelo elenco de apoio, que tem nomes como Jacinda Barrett (Poseidon), Enrique Murciano (Without a Trace) e Chloë Sevigny (Big Love). Porém, falta profundidade aos personagens, que parecem não passar de peças no tabuleiro de Danny.
Na minha opinião, um erro foi decidir estender a história. Os 13 episódios fechariam a trama de maneira satisfatória. A confirmação de uma segunda temporada não precisava significar a obrigatoriedade de seguirmos com os Rayburn, podendo ter o mesmo rumo de American Horror Story e True Detective (histórias fechadas a cada ano), mas com o tema "família". Porém, o trio de criadores preferiu continuar, o que pode transformar uma boa premissa em uma novela (da maneira mais pejorativa)
Também acho que faltou timing para o lançamento da série. O Netflix colocou Bloodline no ar pouco tempo depois da (aguardada) terceira temporada de House of Cards, e pouco tempo antes da estreia de Demolidor. Com isso, parece que a saga da família Rayburn não recebeu a atenção que deveria. Nem do público e nem da crítica.
Você vai gostar se: Quiser conferir grandes atuações. Mendelsohn e Chandler estão espetaculares. Se existe justiça, serão lembrados na temporada de premiações. É uma série linda, com ótima fotografia (as paisagens da Florida ajudam bastante). É recomendada para quem gostou de Damages, mas não espere a mesma densidade.
Fique longe se: Você não gosta de longos diálogos. Bloodline é um drama muita fala e pouca ação (não é uma falha, e sim uma característica). Também falta profundidade ao elenco de apoio. No geral, a série promete muito, mas fica sempre no quase.
Termino o primeiro ano sem expectativas para a segunda temporada. Espero que o Netflix cuide bem deste filho, caso contrário, aquela que prometia ser a grande produção de 2015, vai terminar na segunda divisão do serviço de streaming
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