Spectre. Uma semana depois
Quando comecei uma maratona com todos os títulos de James Bond, não imaginava que isso
mudaria a forma com que eu assistiria “Spectre”,
a mais recente aventura do espião. Se fosse ao cinema sem aquelas quase 50
horas assistindo ao personagem, minha impressão seria outra. Depois de 23
títulos do 007, depois de acompanhar
cada fase, cada nuance do agente, cada vilão, cada erro e acerto, minha opinião
é que esse mais novo episódio, é apenas bacana.
Não consegui pegar “Spectre” na estreia, como queria, mas
do fim de semana não passou. Saí do cinema pensativo. Por isso, preferi esperar
alguns dias antes de escrever, para deixar passar aquela euforia que o excesso
de ação na tela grande e aquele som absurdo causam (tanto que já está no
Guiness com a maior cena de explosão já feita). E realmente, a euforia de
momento foi grande, já que quase uma semana depois, caiu um bocado no meu
conceito.
O filme, em geral, não é ruim. Longe disso. Contando esta
fase de Daniel Craig, perde apenas
para “Cassino Royale”. É muito
melhor que “Quantum of Solace” (o
que não é muito difícil). E apesar de não ter todo o capricho técnico de “Skyfall”, me empolgou bem mais.
Foram duas horas e meia que passaram bem rápido, já que
as cenas de ação, talvez as melhores de toda a franquia, conseguem desviar a
atenção dos problemas, que não são poucos. Por exemplo, o fim do segundo ato e
início do terceiro quebram o ritmo da história (que era boa até o momento), já
que o roteiro insiste que Bond tem que se apaixonar. Foi bom em “Cassino
Royale”, mas desta vez, soa desnecessário, sem sentido. E é esse 007 cheio de
amor que garante o final. Inclusive, com uma conclusão para Craig, que pode não
voltar.
Os companheiros do Bond, aliás, estão entre os acertos do
filme. Moneypenny e Q ganham destaque, e mais do que
simples apoios, participam da ação. Já o M
de Ralph Fiennes sofre ao ser
colocado para comandar o barco no meio de uma tempestade (o que nunca aconteceu
com a personagem de Judi Dench), mesmo assim, convence a mostrar um lado mais
prático do líder do MI-6.
Já as Bond girls
me decepcionaram. Monica Bellucci
mal tem tempo de aparecer em cena. Já Léa
Seydoux nada mais é que uma nova Vesper
Lynd, que desta vez, não trai o protagonista. E incomoda ver como o 007 se
apaixona facilmente.
A falha mais apontada nos reviews que eu li é sobre uma
direção no automático de Sam Mendes.
E não estão errados. É um filme lindo, quando comparado a maioria das ações que
estreiam semanalmente. Mas muito pouco, se pensar no que o mesmo diretor fez em
“Skyfall”. Naquela ocasião, parecia que o britânico estava totalmente envolvido
com o projeto, que chega a ser meio poético, na contramão de tudo o que a
franquia havia visto. Desta vez, parece que é só pelo cheque.
Falando em dinheiro, eu tinha expectativas de que o filme
poderia lucrar tanto quanto o anterior, já que trazia de volta os principais
antagonistas do personagem. Mas acho que vai ficar longe disso. Em pouco mais
de uma semana, foram arrecadados 314 milhões, bem distante do 1,1 bilhão de “Skyfall”.
E um dos motivos do possível flop do
filme, parece ser o mesmo que andou derrubando bilheterias neste ano: a
estúpida necessidade de dar uma origem para tudo.
[Spoilers a
seguir]
Bond não precisa ter seu passado revirado. Eu não preciso
entender de onde ele veio. Não preciso saber que ele é assim por ter tido uma
infância difícil, por vender chocolate no semáforo ou por ter ido para o
hospital por ter comido muita paçoquinha. Ainda mais se é para fazer a bobagem
que foi feita.
Para começar, era mais do que óbvio que Blofeld estaria em cena. Em um filme
chamado “Spectre”, que traz a organização criminosa de volta às telas após mais
de 40 anos, teria que ser muito inocente para achar que o icônico antagonista
ficaria fora. Na hora em que o personagem de Christoph Waltz revela que agora se chama Ernst Stavro Blofeld, admito que dei um sorriso. Mas para a
história, aquilo não significa nada, como bem apontou o Renan Martins Frade, no Judão. Aliás, a solução sugerida é muito mais interessante do que a apresentada
no filme.
Daí, o roteiro resolve acrescentar à sociopatia e megalomania do vilão, um desejo de se
vingar do irmão de criação. Bond e Blofeld irmãos. Sério? Não tinha nenhuma
grande reviravolta melhor, não?
O final, com um Bond entregando Blofeld, vivo, para o MI-6
é condizente com o que o personagem criado por Craig apresentou nos quatro
filmes. Além disso, depois de 40 anos, ninguém seria louco de matar o vilão de
novo.
James Bond vai voltar. Ele sempre volta. Já Daniel Craig,
está livre para partir. Ganhou um adeus, o que não ocorreu com nenhum outro
Bond. O produtor Michael Wilson já afirmou que o ator não tem contrato para
mais um filme, mas quer que ele continue. Depende do cachê.
É um bom filme. Mas podia ser muito melhor.
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