Spectre. Uma semana depois

17:52 Unknown 0 Comments



Quando comecei uma maratona com todos os títulos de James Bond, não imaginava que isso mudaria a forma com que eu assistiria “Spectre”, a mais recente aventura do espião. Se fosse ao cinema sem aquelas quase 50 horas assistindo ao personagem, minha impressão seria outra. Depois de 23 títulos do 007, depois de acompanhar cada fase, cada nuance do agente, cada vilão, cada erro e acerto, minha opinião é que esse mais novo episódio, é apenas bacana.

Não consegui pegar “Spectre” na estreia, como queria, mas do fim de semana não passou. Saí do cinema pensativo. Por isso, preferi esperar alguns dias antes de escrever, para deixar passar aquela euforia que o excesso de ação na tela grande e aquele som absurdo causam (tanto que já está no Guiness com a maior cena de explosão já feita). E realmente, a euforia de momento foi grande, já que quase uma semana depois, caiu um bocado no meu conceito.

O filme, em geral, não é ruim. Longe disso. Contando esta fase de Daniel Craig, perde apenas para “Cassino Royale”. É muito melhor que “Quantum of Solace” (o que não é muito difícil). E apesar de não ter todo o capricho técnico de “Skyfall”, me empolgou bem mais.

Foram duas horas e meia que passaram bem rápido, já que as cenas de ação, talvez as melhores de toda a franquia, conseguem desviar a atenção dos problemas, que não são poucos. Por exemplo, o fim do segundo ato e início do terceiro quebram o ritmo da história (que era boa até o momento), já que o roteiro insiste que Bond tem que se apaixonar. Foi bom em “Cassino Royale”, mas desta vez, soa desnecessário, sem sentido. E é esse 007 cheio de amor que garante o final. Inclusive, com uma conclusão para Craig, que pode não voltar.


 A trama é atual e interessante, mas caso você tenha assistido “Missão: Impossível – Nação Secreta”, pode parecer mais do mesmo. “Spectre” segue a mesma linha do filme de Tom Cruise. Nem mesmo a reviravolta dentro do MI-6 que o roteiro tenta criar consegue causar algum impacto ou surpresa.

Os companheiros do Bond, aliás, estão entre os acertos do filme. Moneypenny e Q ganham destaque, e mais do que simples apoios, participam da ação. Já o M de Ralph Fiennes sofre ao ser colocado para comandar o barco no meio de uma tempestade (o que nunca aconteceu com a personagem de Judi Dench), mesmo assim, convence a mostrar um lado mais prático do líder do MI-6.

Já as Bond girls me decepcionaram. Monica Bellucci mal tem tempo de aparecer em cena. Já Léa Seydoux nada mais é que uma nova Vesper Lynd, que desta vez, não trai o protagonista. E incomoda ver como o 007 se apaixona facilmente.

A falha mais apontada nos reviews que eu li é sobre uma direção no automático de Sam Mendes. E não estão errados. É um filme lindo, quando comparado a maioria das ações que estreiam semanalmente. Mas muito pouco, se pensar no que o mesmo diretor fez em “Skyfall”. Naquela ocasião, parecia que o britânico estava totalmente envolvido com o projeto, que chega a ser meio poético, na contramão de tudo o que a franquia havia visto. Desta vez, parece que é só pelo cheque.

Falando em dinheiro, eu tinha expectativas de que o filme poderia lucrar tanto quanto o anterior, já que trazia de volta os principais antagonistas do personagem. Mas acho que vai ficar longe disso. Em pouco mais de uma semana, foram arrecadados 314 milhões, bem distante do 1,1 bilhão de “Skyfall”. E um dos motivos do possível flop do filme, parece ser o mesmo que andou derrubando bilheterias neste ano: a estúpida necessidade de dar uma origem para tudo.

[Spoilers a seguir]


Bond não precisa ter seu passado revirado. Eu não preciso entender de onde ele veio. Não preciso saber que ele é assim por ter tido uma infância difícil, por vender chocolate no semáforo ou por ter ido para o hospital por ter comido muita paçoquinha. Ainda mais se é para fazer a bobagem que foi feita.

Para começar, era mais do que óbvio que Blofeld estaria em cena. Em um filme chamado “Spectre”, que traz a organização criminosa de volta às telas após mais de 40 anos, teria que ser muito inocente para achar que o icônico antagonista ficaria fora. Na hora em que o personagem de Christoph Waltz revela que agora se chama Ernst Stavro Blofeld, admito que dei um sorriso. Mas para a história, aquilo não significa nada, como bem apontou o Renan Martins Frade, no Judão. Aliás, a solução sugerida é muito mais interessante do que a apresentada no filme.

Daí, o roteiro resolve acrescentar à sociopatia  e megalomania do vilão, um desejo de se vingar do irmão de criação. Bond e Blofeld irmãos. Sério? Não tinha nenhuma grande reviravolta melhor, não?


O final, com um Bond entregando Blofeld, vivo, para o MI-6 é condizente com o que o personagem criado por Craig apresentou nos quatro filmes. Além disso, depois de 40 anos, ninguém seria louco de matar o vilão de novo.

James Bond vai voltar. Ele sempre volta. Já Daniel Craig, está livre para partir. Ganhou um adeus, o que não ocorreu com nenhum outro Bond. O produtor Michael Wilson já afirmou que o ator não tem contrato para mais um filme, mas quer que ele continue. Depende do cachê.


É um bom filme. Mas podia ser muito melhor.

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