O Papai é Pop, de Marcos Piangers

17:20 Unknown 0 Comments



Não gosto do Marcos Piangers. Sem nem ao menos conhecer o cara, me abracei ao preconceito, devido ao monte de porcaria que ele costuma disparar em um dos principais programas de rádio do Sul do país. Não sei se ele é assim mesmo ou apenas um personagem atrás do microfone. Mesmo assim, antes mesmo de ele aparecer no programa da Fátima Bernardes (por mais de uma vez, aliás), fiquei com vontade de comprar  o livro dele, que traz uma série de crônicas da vida ao lado das duas filhas.

Além disso, eu leio muito, mas leio pouco. Explico. Devoro jornais, revistas e sites, mas admito pecar na quantidade de livros. Tanto que na estante da frente, a da patroa, dá para contar nos dedos o número de obras que são minhas. Eu reclamo dos junk books que fazem sucesso, mas não me dou muito trabalho de ir atrás dos interessantes. Eu até tento, mas normalmente abandono depois de poucos parágrafos. Talvez por isso eu tenha ficado surpreso com a velocidade que eu terminei “O Papai é Pop”.

Não devo ter demorado mais de duas horas para terminar o livro. Não apenas por ser curto. Tem pouco mais de 100 páginas, muitas delas cobertas de artes, que longe de encher linguiça, dão alma à publicação. Terminei em umas duas horas, pois é uma obra que prende na primeira crônica, quando ele revela que deveria ter sido abortado. Tudo para se declarar à mãe e começar a falar dos seus tesouros, a Anita e a Aurora.

As crônicas são pequenas (as maiores não passam de duas páginas) e deliciosas. Piangers fala sobre o sofrimento de deixar as meninas na creche, quando resolve agir como elas para tentar dar uma lição, sobre a culpa por viajar sem as filhas ou então ao ver as brincadeiras atuais e relembrar os “bons tempos de antes” (pobre Otávio). Em todos os momentos, ele brinca com as palavras como se fosse um amigo contando um causo, interrompendo o tempo todo para fazer uma piada, ou para nos mostrar um lado mais meigo.

Em algumas crônicas, ele se derrete completamente pelas filhas, como quando descreve toda a ação de Anita comendo uma bomba de chocolate (ou éclair, como queiram) ou em conversas sobre preconceito e religião. Aurora, de dois anos, também é retratada com brilho, seja na fase do “terrific two” ou quando ela cuida dele quando ele está doente. Aliás, ele não cansa de escrever do mesmo jeito que ele fala, tanto que o vocabulário da caçula ganhou um capítulo.


Piangers também abusa das lições de moral, mas não chega a incomodar. Pelo contrário, elas fazem com que o leitor coloque a mão na consciência. Algumas são para se queixar do excesso de zelo da geração atual, como quando escreve: “Minha mãe me entupia com bolacha e ki-suco na década de 1980 e eu estou aqui, nem tão firme e nem tão forte, mas vivo”.

Em outros casos, ele acerta no emocional, como na crônica em que ele conta que Aurora não sabe o que é passado e futuro. “Ela vive o doce presente, devora a vida como se não houvesse amanhã. Enquanto isso, nós adultos muitas vezes guardamos os doces, pra muitas vezes jamais comê-los”. Forte, não?

Lembro de ter gargalhado ao ler a crônica em que ele fala das histórias que ouve, relatando causos com outras crianças (apenas o parágrafo do caiaio já faz a leitura valer a pena). Mas para mim, o melhor capítulo é o que Piangers conta que começou a mostrar para Anita os filmes que ele gosta. Aos poucos que ela vai conhecendo os clássicos, se apaixona por “Star Wars”. É impossível ler e não pensar em viver tal experiência quando virar pai.

Terminei o livro triste. Como se um amigo tivesse ido embora. Afinal, agora, vou ter que voltar a aturar o Piangers da rádio. Não gosto daquele cara. Mas depois das cento e poucas páginas, descobri que eu gosto muito do pai da Anita e da Aurora.

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