31 dias. 31 filmes
A cada virada de ano eu faço uma resolução: assistir mais
filmes. Dificilmente consigo. E olha que eu sempre projeto um número baixo,
tipo 10 por mês. Mesmo assim, não rola. Com a rotina do trabalho, nem sempre é
possível parar e esquecer do resto do mundo por duas horas. Mas em janeiro, o
jogo virou.
O desafio era o seguinte: assistir 31 filmes durante os
31 dias por mês. E como diria Capitão Nascimento, missão dada, parceiro, é
missão cumprida!
Neste mês, rolou de tudo um pouco. Desde os
“oscarizáveis”, que vão ser abordados em um post especial antes da premiação,
até alguns filmes não tão velhos do Netflix , mas que eu ainda não havia
assistido – destaque para “Sem Segurança Nenhuma”, filme de estreia do Colin
Trevorrow, que eu achei extremamente sem graça, além de ficar incomodado com a
estética de produção para a TV.
Assisti coisas boas, coisas ruins, mas nada se comparou a
experiência proporcionada por três títulos: “A Travessia”, “A Visita”, e
principalmente, “Eu, Você e a Garota que vai Morrer”. Não significa que são
ótimos filmes (no caso dos dois primeiros, são apenas razoáveis), mas nenhum me
fez sentir como estes. Explico.
“A Travessia” é um filme intenso, de sensações. E
fazer sentir, é uma das melhores coisas que o cinema pode proporcionar. Como
história, não tem nada de mais. Quando tenta ser diferente, utilizando a quebra
da quarta parede, falha, criando momentos bastante desnecessários. Mas como eu
disse, é um longa de sensações, e para isso, tem que assistir da maneira certa.
É uma produção que foi feita para o 3D. Teve cena, inclusive, em que eu desviei do
que estava vindo, o que nunca tinha acontecido. Então, se você não tem TV 3D,
vá na casa de um amigo, mas não perca esta experiência. Aliás, já me arrependo
de não ter assistido em IMAX.
Depois do filme, fui obrigado a procurar imagens da
própria travessia do Philippe Petit, e é absurdo o que ele fez. Quando der, preciso
assistir o documentário “O Equilibrista”, vencedor do Oscar, que conta a
história dele, e dizem ser muito melhor como história.
Já “A Visita”, é no mínimo, surpreendente. M. Night Shyamalan
(que na minha opinião, não fazia nada que prestasse desde “O Sexto Sentido”) não
convence mais ninguém. Suas últimas tentativas para cinema (“Depois da Terra”,
com Smith pai e Smith filho) e televisão (a série “Wayward Pines”) foram
execradas. Por isso, ninguém deu a mínima para o novo trabalho, o que fez muito
bem.
Shyamalan acertou ao apostar e um filme simples, sem
aquela mania de se levar a sério. E também acertou ao se juntar a Jason Blum, o
mídas do terror atual, responsável por produzir “Atividade Paranormal”,
“Sobrenatural” e “Uma Noite de Crime”. O resultado é um trabalho tenso. Poucas
vezes fiquei tão aflito na cadeira. Mas que ao mesmo tempo, é divertidíssimo,
graças ao ótimo trabalho dos dois protagonistas. Às vezes exagera no
sentimentalismo e na zoeira, mas não prejudica o resultado final.
Por fim, o meu favorito da lista. “Eu, Você e a
Garota que vai Morrer” (“Me and Earl and the Dying Girl”) é o típico filme
indie adolescente, gênero que costuma trazer pequenas pérolas. E é o caso
deste. A relação de amizade entre o garoto cínico com o que acontece ao seu
redor com a menina que tem câncer é divertida, e principalmente, emocionante.
Se eu chorasse com o cinema, estaria em lágrimas até agora. Quando acabou,
minha vontade era acordar minha esposa que estava dormindo ao lado e pedir um
abraço. Mas estava petrificado, apenas vendo as letrinhas subindo.
Muita gente não deu a mínima para o filme, mas experimente.
Vai que ele garante essas sensações para você também!
Entretenimento do
bom
"Straight Outta Compton"
Se tem um filme que eu enrolei demais para ver, é “Ex
Machina”. A ficção com Oscar Isaac e Domhnall Gleeson ganhou status de cult com
razão. É inteligente, é tenso e assustador. Impossível não ficar com medo de
onde a tecnologia pode chegar (se é que não chegou em alguma casa tecnológica
no meio do nada). E além disso, tem Alicia Vikander roubando todas as cenas!
Outro que eu deveria ter visto antes é “Straight Outta
Compton – A Histótia do N.W.A.”. Que pedrada, meu amigo. Forte, cru,
empolgante. Mais do que a origem de um grupo de rap, mostra a realidade da rua,
da violência policial, e de um movimento que ganhou o mundo, em uma época sem
internet ou mimimi. Destaque para as atuações do trio protagonista, principalmente
o filho do Ice Cube, que se transforma durante as duas horas e meia de filme.
Bradley Cooper segue com seus papeis água com açúcar em
“Pegando Fogo”, mas neste caso, é uma água com açúcar gourmet. Além dele, o elenco
conta com nomes como Sienna Miller, Daniel Brühl, Omar Sy, Matthew Rhys, Uma
Thurman, Emma Thompson, Lily James e Alicia Vikander (mais uma vez). Duas horas
de comidas lindas, ótimo entretenimento e Cooper sendo Cooper. Com o perdão do trocadilho, é um prato cheio!
“Um Senhor Estagiário” é aquele típico filme para agradar
a patroa. Mas não é que é muito bom? A química entre os personagens de Anne
Hathaway e Robert De Niro é fantástica. Aliás, há tempos que eu não via o
veterano tão à vontade em cena.
Outra surpresa é “O Presente”, com Jason Bateman e Joel
Edgerton (que também escreve e dirige). No início, parece o típico suspense
familiar do “Supercine”, mas logo mostra que o buraco é bem mais embaixo. Em
alguns momentos, tem até um quê de “Oldboy”. As reviravoltas agradam e o
desfecho surpreende. E tem no Netflix!
Os nacionais e as
animações
"O Bom Dinossauro"
Quando “Que Horas Ela Volta” não foi indicado ao Oscar, a
comoção foi grande. Mas após assistir, me veio o seguinte pensamento: não é
possível que isso seja o melhor que temos. Vamos lá, Regina Casé está bem,
muito bem, mas o filme fica nisso. Não entendo todo o Carnaval que se faz por
ele, já que é raso em todos os assuntos levantados. Traz uma realidade além da
dobradinha Nordeste/favela, mas não se aprofunda em nada.
Com a tentativa frustrada, fui atrás da indicação de que
“Ponte Aérea” é uma das melhores produções nacionais dos últimos tempos. Não,
não é. As situações abusam dos clichês paulistas x cariocas, as atuações são
fracas (como assim a Letícia Colin ganhou algum prêmio por isso?) e o personagem
do Caio Blat é um dos mais irritantes que já ganharam as telas. Da mesma diretora, tive uma sensação muito
melhor ao assistir “Meu Passado me Condena 2”. Este, pelo menos, apesar dos
defeitos, te faz torcer pelos personagens, além de não se levar a sério.
Já entre as animações, precisei tirar a prova do
questionado “O Bom Dinossauro”. Tudo bem, pode não ter aquele padrão Pixar, mas
é superior a grande maioria dos títulos infantis. E é esse o público alvo, as
crianças. Eu seria muito cínico se criticasse um filme que cumpre tão bem o que
propõe. Bebe da fonte de clássicos como “O Rei Leão” e deixa boas lições. Se
fosse pai, ficaria feliz de levar um filho ao cinema para assistir. Ah, e tem o
cenário mais bonito que o CG já criou.
Já “Snoopy e Charlie Brown” acerta na mosca ao respeitar
os fãs antigos, seja pelas piadas ou mantendo o visual clássico, e conquistar
novos. Todos os elementos clássicos dos personagens estão lá. E é outro filme
que passa ótimas lições, como lealdade, coragem e honestidade. A única parte
que deixa a desejar são os esquetes do Snoopy, fracos para um personagem tão carismático.
Nem só de filme
bom é feita a vida
"Sicario - Terra de Ninguém"
No meio de tantas boas histórias, tive o azar de pegar
filmes difíceis de engolir, como “Irmãos Desastre” (“The Skeleton Twins”), com
a Kristen Wiig e o Bill Hader. Ótimos atores interpretando personagens
tenebrosos, sem carisma algum. Os minutos se arrastavam e eles só pioravam. E
pensar que ganhou o prêmio de melhor roteiro em Sundance.
Outros filmes complicados foram “O Final da Turnê”, com
Jason Segel e Jesse Eisenberg, e “Aprendendo com a Vovó”, título tenebroso estilo Sessão
da Tarde que deram para “Grandma”, com a Lily Tomlin. O primeiro tem um ou
outro bom diálogo, mas é só. Pouco demais para uma produção que vive apenas
disso. O segundo, um road movie que não vai para a estrada, tem menos de
1h20min e ainda assim consegue ser maçante.
Outros que não servem para ruins, mas que são
decepcionantes, são “Nocaute” e “Sicário - Terra de Ninguém”. Ambos contam com
grandes atuações, mas com histórias aquém do esperado.
“Nocaute” parece ter sido feito para que Jake Gyllenhaal
ganhasse um Oscar. Mas passou longe. A história exagera nos clichês (tanto que
o nome do cara é hope...) e os personagens pecam no carisma. Você até torce
pelo protagonista, mas não tanto quanto deveria. E em um ano com “Creed”, a
comparação é inevitável. Melhor sorte ao Jake em 2016.
Já “Sicario” é impecável na parte técnica. A direção de
Denis Villeneuve e a fotografia de Roger Deakins (de “Skyfall”) é
irrepreensível. Até começa bem, acerta ao deixa o espectador no escuro,
enxergando pelos olhos da protagonista. Deixa mensagens, já que mais do que
narcotráfico, é uma história de política, de vingança, sobre convicções e fica
a pergunta se os fins justificam os meios. Pena ter uma história arrastada e
que não empolga. Não é ruim. Mas poderia ser muito melhor.
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